Outro dia estava conversando com a Fabíola sobre um livro que ela tá lendo, onde o autor fala das revoluções na disseminação da informação. A primeira revolução foi a invenção da escrita que possibilitou que o conhecimento de uma pessoa pudesse ser enviado aos quatro ventos e, através de um leitor, repassado a um público ainda maior.
Imagina que antes da escrita quem quisesse aprender algo tinha que ir até a pessoa que sabia e pedir pra aprender. Surge o termo aprendiz, aquele que trabalha de graça em troca de conhecimento, que aprende fazendo. Outras formas de ensino são verbais, um conto, uma fábula, estórias fantasiosas que são passadas de geração a geração.
Com a escrita, os grandes contadores de história podiam colocar sua versão em um formato “portátil” e que podia ser copiado e distribuído pelas cidades, habilitando que a versão da informação estivesse em vários locais ao mesmo tempo, o que antes era impossível. Surge o escriba, aquele que transforma verbo em texto, que copia o livro para quem pode pagar. Surge também aquele que lê para o povão. Surge também o tutor que ensina a ler e escrever quem pode pagar.
Neste momento a informação é cara, restrita e de fácil manipulação. Quem controla os escribas controla a forma como a informação será passada, manipula o conteúdo dos textos, edita, suprime da forma que lhe mais convém. Se todos os escribas/copistas precisam de um “original” para copiar dele, quem possui o original possui o poder. A Igreja Católica até hoje possui um dos maiores acervos de textos “originais” com acesso extremamente restrito, até a Bíblia que temos hoje é uma versão editada com vários textos suprimidos e edições que não temos a menor idéia…
Em 1440, um doido chamado Johannes Gutenberg inventou a prensa móvel, literalmente inventando a gráfica. De uma hora pra outra a cópia de um livro deixa de levar meses/anos e para dias/semanas. Foi uma revolução tão grande que em 50 anos as maiores cidades da Europa já tinham sua imprensa. 50 anos, na época medieval, no lombo do cavalo, no carro de boi a tecnologia da imprensa chegou a 226 cidades. Todas gerando cópias de livros baratas, com ilustração (xilografia era o mais comum)… Mapas podiam ser copiados inúmeras vezes para toda a frota naval, jornais, folhetins e diversos outras formas de disseminação da informação surgiram.
Os escribas ficaram furiosos, as grandes bibliotecas iradas e até a Igreja Católica queriam o escalpo de Gutemberg… Propagandas de que livros impressos tinham menor qualidade eram as mais comuns. E foi isso que me fez pensar…
A internet hoje fez uma revolução tão grande que está quebrando jornais, gravadoras, lojas de música, cinemas… E não é pela pirataria não… É um espelho da imprensa… É uma forma mais fácil, mais ágil e mais barata de acesso a informação. E ela quebra paradígmas, quebra não só a forma de distribuir a informação mas a forma de consumo da informação.
Antes da internet, você comprava um CD ou vinil com várias músicas mas na verdade só queria escutar 1 ou 2 músicas. Tanto é que até hoje existe o termo “Lado B” como designação de músicas mais experimentais, menos vendáveis… Esta é a forma de trabalho das gravadoras, faz-se um disco com algumas músicas boas e várias “medianas” pra encher o disco, vende-se por um valor altíssimo o conjunto… Tanto que se o cantor/grupo/conjunto/compositor/etc faz várias músicas que são consideradas de sucesso é normal distribuir os hits em 2-3 discos… É pra vender mais discos, gerar mais dinheiro, funciona faz anos, os artistas estão ricos, as gravadoras mais ainda…
E as gravadoras estavam iradas com as pessoas que gravavam as músicas em fita K7, quem tinha os discos mas queria fazer uma fita com as melhores músicas… Lógico, eles querem que você compre o pacotão, a música legal e as outras marromenos tudo junto pagando caro. E ai de quem fizesse uma cópia da fita pra um colega… fita com uma seleção de músicas românticas pra namorada? Já era razão de perda de cabelos pras gravadoras naquele tempo…
Surge a internet e tudo muda… Napster é a festa da pirataria, que é errado, e hoje é o bittorrent onde baixam-se filmes inteiros… Quem não conhece a estória do filme Tropa de Elite que vazou na internet? E Wolverine? Esses são ainda mais incríveis pois estavam na internet antes de estar no cinema… E como em 1500 o povo está irado, processando Deus e o mundo, fechando a porta, tentando se agarrar com unhas e dentes à forma antiga de fazer dinheiro… Mas todos, no fundo, sabem o que deve ser feito… Adaptar-se ou morrer…
O iTunes Store, da Apple, vende músicas a granel a um preço muito em conta. Vende também seriados de TV e Filmes, também a preços muito bons, você pode “alugar” ou comprar um filme. Alugando você pode vê-lo por um período predeterminado, é mais barato que comprar. E esse é o futuro… Num mundo onde todos querem ser verdes, fazer menos mal para o meio-ambiente o destino certo é o fim da cópia física. Tudo digital, jornal, música, filme e etc…
As TVs a cabo serão as próximas, se não se atentarem para o que o TiVo faz, perderão clientes. A NET é esperta e junta TV a Cabo com internet e mantém os clientes, mas dentro em breve todos que possuem banda larga vão começar a cancelar a TV por assinatura, pois o que o cliente quer é assistir os programas que ele gosta na hora que ele quiser. A internet permite isso e muito mais, sem propaganda, sem burocracia e você assiste aonde quizer. Várias companhias de TV já disponibilizam seu conteúdo na internet, muitas de graça e com propagandas, outras por um preço pequeno… Agora imagina pagar um valor menor na sua assinatura de TV e ver só o que você quer? Sem propaganda, sem programas velhos, sem aquele problema de dois/três programas passando no mesmo horário… Você baixa todos e assiste quando quiser, na orderm que quiser e aonde quiser: na TV da sala, no PC do escritório ou no notebook na cama antes de dormir.
É a evolução natural dos Podcasts, Videocasts já existem hoje no YouTube e já rendem dinheiro a TV da nova geração não será 3D, mas sim configurada aos desejos do usuário. Pois afinal o usuário de hoje é mais esperto e não cai mais nessa de comprar pacote pra usar um pedaço, tanto na música, quanto na TV… Todo mundo pode espernear e gritar o quanto quiser, mas se não evoluir vão morrer…
E é esse mesmo o caso dos jornais hoje em dia. Os números de vendas estão caindo, os assinantes sumindo e tudo por causa da internet. O jornal por si só já está desatualizado no momento em que ele é impresso. A versão online do jornal já está dominando, as notícias de 3 páginas já não são mais tão lidas, agora são 3 parágrafos… RSS está acabando com o jornal impresso, eu leio a notícia que me interessa e não preciso mais comprar um jornal inteiro pra ler o caderno de informática… Vários jornais e revistas (em menor quantidade) estão chegando a um ponto onde não há mais luz no fim do túnel… E ela não é o iPad da Apple não… Ainda existem pessoas que querem o jornal impresso, que querem o papel, mas não aquele bolo que é descartado após ser lido… E se a imprensa não se renovar, ela vai virar escriba…